Um breve histórico das teorias sobre a origem da vida – Abiogênese (parte1/2)

Até os séculos XVIII e XIX, a Biologia ainda era uma ciência muito pouco desenvolvida. Não existia até então uma teoria com embasamento experimental que explicasse o surgimento da vida.

As pessoas presenciavam a aparição de ratos e baratas em depósitos de alimentos, e não sabiam como haviam surgido. Dessa forma, aos poucos formulou-se a teoria da “abiogênese”, ou a teoria da geração espontânea. Pela etimologia da palavra, podemos entender o que essa teoria afirmava:

Louis Pasteur
  • “bio” significa “vida”
  • “gênese” significa “geração”, “origem”
  • “a” é um prefixo de negação

Portanto, a “abiogênese” indica uma “geração não biológica”. Explicarei melhor: os adeptos dessa teoria afirmavam que um ser vivo podia surgir de matéria não viva, ou seja, não era necessário um outro ser vivo que o gerasse.

Surgiram até “receitas” sobre como criar um ser vivo. Para fabricar ratos, por exemplo, bastava juntar roupas sujas no canto de um quarto, com um pouco de trigo, e esperar alguns dias que eles “surgiriam”. Hoje sabemos que os ratos não eram gerados nesses quartos, podemos explicar como chegavam até eles, e parece-nos incompreensível e absurdo que alguém pudesse acreditar em algo assim. Atualmente já sabemos que todo ser vivo foi gerado por outro. Mas lembremos que naquela época o conhecimento científico geral ainda era muito limitado.

No entanto, uma pergunta é inevitável: se todo ser vivo é gerado a partir de outro, de onde, ou como, surgiu o primeiro ser vivo?

Tentarei passar uma noção geral sobre a evolução das teorias que tentam explicar o surgimento da vida, a partir de um breve histórico sobre elas. Não entrarei em detalhes nem pormenores, por isso deixarei de mencionar alguns nomes e datas, que não vão interferir na compreensão da sequência dos fatos.

Defendida por quase toda a população, a abiogênese era difícil de ser derrubada. Qualquer um que discordasse dela era visto com maus olhos pela população em geral. O primeiro a desafiá-la formalmente, introduzindo a idéia oposta, a da “biogênese” (como não tem o prefixo de negação “a”, “biogênese” significa simplesmente “origem biológica”), foi Francesco Redi, um biólogo italiano, em 1668.

Para derrubar a abiogênese, Redi fez o seguinte experimento:

Colocou matéria orgânica (restos de comida, etc.), em dois recipientes. Um dos recipientes, ele deixou aberto. O outro, ele fechou com uma tampa. Após alguns dias, apareceram moscas no frasco aberto. É fácil deduzir que no frasco fechado não surgiu nenhum ser vivo. Esse experimento em si seria suficiente para que a “abiogênese” fosse derrubada. Entretanto, seus  adeptos forneceram o argumento de que os seres vivos precisavam de oxigênio para serem gerados, afirmando que no frasco tampado não havia oxigênio, por isso não haviam surgido seres vivos.

O experimento que derrubou definitivamente a abiogênese, só veio a ser realizado em 1882, pelo francês Louis Pasteur (o criador da pasteurização). Pasteur utilizou o famoso frasco “pescoço de cisne”, ilustrado na imagem abaixo:

Dentro do frasco, Pasteur colocou uma “sopa nutritiva” e a ferveu. Como resultado da fervura, gotículas de vapor permaneceram nas paredes do frasco; essas gotículas impediram quase que completamente a entrada de microorganismos nele. Esse experimento derrubou a “abiogênese”, pois o frasco era aberto na extremidade, o que garantia a presença de oxigênio, impedindo que fosse novamente utilizado o argumento anterior pelos adeptos da abiogênese.

Surge assim uma nova teoria, a “biogênese”. Junto com ela, vários experimentos que buscaram entender a origem dos primeiros seres vivos.

Em outro post, continuarei o histórico a partir da biogênese, até chegar à teoria atual sobre a origem da vida, a hipótese heterotrófica.

Giulia R.

Publicado em 16/07/2011, em Biologia, História da Ciência e marcado como , , , , , . Adicione o link aos favoritos. 1 comentário.

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